Thursday, January 03, 2008

Vida alheia

Ao andar de ônibus muitos pensamentos surgem na minha cabeça. As vezes me pego pensando nos meus problemas, penso no que eu vou fazer ao chegar no meu destino, cantando e pensando. Enfim: uma vasta gama de pensamentos, fictícios ou não. E um deles, agora, vou relatar aqui. Outros, com certeza, virarão outros textos, mas este em particular achei muito interessante, além de ser uma coisa que, acho eu, poucas pessoas realmente se dão conta de ser verdade, e passam reto por este pensamento. Talvez depois de ler isso alguém mude de pensamento e comece a perceber como estou percebendo, e pode passar até a ser um passatempo, eu diria, como foi meu caso.

Você já parou pra pensar o que a pessoa do seu lado está pensando? O que aquele cara encostado no carro na frente daquela loja de ferramentas esta sentindo? Você, ao entrar em um transporte público, cumprimenta as pessoas? No ônibus, por exemplo, o motorista ou o cobrador...? Saiba que tens o poder de mudar o dia dos mesmos apenas com um simples gesto desse. Mesmo que você não tenha a mesma resposta, mesmo que tenha uma resposta pior ou qualquer que seja... Mas nem é esse o ponto do texto, e sim, quantas vidas passam despercebidas aos nossos pensamentos, nossos caminhos. Foda-se o pensamento de pensar no próximo, pense por curiosidade mesmo. Todos sabemos que "se preocupar com o próximo" é uma grande utopia.

Julgue-as pelo rosto, pelas ações, pelo batimento cardíaco refletido em sua respiração, e tente adivinhar como elas estão. Resolva perguntar o horário para achar um tom de voz que te ajude na dedução. Apenas deixe que isso fique na sua cabeça. Veja se elas se assustam ao tocar de um telefone, se jogam seus lixos no lixo ou se fingem que deixam escapar "acidentalmente" para que largue-os no chão. Se também cumprimentam o motorista e/ou o cobrador, ou se deixam-os passar despercebidos, como você mesmo vez ao adentrar o veículo, e se deixam passar em vão todas as vidas dentro do mesmo ônibus que ela, e todas as que passam em seu olhar do outro lado da janela. Um dia arrisque a perguntar, depois de um veredito, como ela esta sentindo pra ver se, no final, suas hipóteses tiveram bons fins. Essa última parte ainda me falta...

É sério. Chamem de paranóia, chamem de imbecilidade, chamem do que quiser, pra falar a verdade, mas é um absurdo, enlouquecedor, ver quantas vidas, quantas histórias, quantas personalidades, e todas essas desconhecidas, podem passar ao nosso lado na rua, no ônibus, no metrô. Imagina se você parasse um dia da sua vida pra puxar uma conversa inocente com uma dessas pessoas, quantas coisas você poderia (ou não, sempre vale ressaltar essa chance também) aprender através delas. Imagina se você parasse um escalador no metrô. Ele esta vestido normal, como uma pessoa comum... Você nunca iria deduzir que ele é escalador. E começasse a conversar com ele. Ele poderia te falar que já vou escalar nos mais diversos países, conheceu as mais variadas etnias e culturas/costumes de vários países do mundo, e que essa foi a melhor coisa da vida dele. Apenas disso você já pode ganhar muitas novas linhas de raciocínio. A pessoa lhe fala sua história, e você conta a sua para ele. Uma troca de experiências que pode ser, simplesmente, inesquecível.

Acho que eu ficaria muito feliz se eu visse alguém assim no ônibus. Agora imaginando do lado oposto, eu diria. Estou lá, maravilha, escolhendo um CD pra ouvir no MP3, entra uma pessoa no ônibus, senta do seu lado... Eu mesmo, confesso, não gostaria muito. Hoje em dia sempre rola aquela paranóia de tomar cuidado com tudo e todos, então mal sento no ônibus, e quando sento e ocorre de um outro cidadão sentar do meu lado, eu nunca fico com aquela cara de feliz, e tento dar o mínimo de atenção. Se o coitado puxar conversa comigo então, eu enfarto, mas uma vez que ele me passou confiança, de alguma forma, e me convencer de que posso conversar numa boa, eu ficaria muito feliz de relatar alguns fatos para ela, e ouvir as experiências dela também. Falar do que gostamos, o que fazíamos ali, pra onde estávamos indo e o que fazer ao chegar no destino. Acho que seria algo muito inédito. Outro dia mesmo quis puxar assunto com um cara que sentou do meu lado no ônibus. Confesso que sou muito preconceituoso, no melhor dos sentidos, e pelo jeito que ele se vestia e tudo mais rolou aquela afinidade ocular, mas esse preconceito fica pra outro texto. O que importa é que não passei, e não conseguir ver a música que estava sendo mostrada no display do MP3 dele, o que me deixou curioso até agora.

Mas acho que aqui fica a dica: apenas reflita isso. Quantas vidas, no mais amplo sentido da palavra, como experiências, sensações, sentimentos, acontecimentos, histórias, etc, passam na sua frente, ou você passa pela frente, e que você deixa que elas passem despercebidas. As vezes é muito bom parar para reparar em detalhes como esse, e farei outros textos sobre muitos outros detalhes.

Pensem nisso.