Sunday, February 18, 2007

O Luto e a Volta

Ao escrever o texto sobre morte, NUNCA pensaria que me depararia com o caso descrito no texto tão cedo. Claro que sabia que poderia acontecer a qualquer momento, mas não em um momento onde tudo esta tão bem, e tal estrondo chega para perturbar nossa quase-paz. Ao longo dos últimos dias, não tive nem a coragem de abrir o Notepad do Windows para tentar escrever um texto sequer. Esse impacto da morte, mesmo não sendo tão direto a mim, afetou de um jeito meu corpo e minha mente que receio nunca mais poder pensar de um jeito tão puro/inocente como eu pensava. Precisava ter mudado meus pensamentos antes... Agora já é tarde demais.

Terça feira, 13 de fevereiro de 2007, 12:58h, saída do colégio, ao ouvir um dos amigos perguntar para Lucas: "Você vai voltar de ônibus ou vai ver sua irmã?". Lucas, ele, sendo meu melhor amigo. De infância. Não entendi tal questionamento. Erro meu ter deixado esse passar batido, sem relevância. Vou para o trabalho, até então feliz, pois estaria a alguns dias de realizar um dos meus sonhos. 18:30h chego em casa, começo a fazer as necessidades fisiológicas de qualquer ser humano, assim me preparando para o banho. Ao entrar no chuveiro, ouço minha mãe me chamar, mas não atendo e acabo a ação. Saio do banho. "Que que foi mãe?", "A Andressa...", "O que tem ela?"... "...Morreu.". Esse foi o impacto. Como já disse, nunca tinha passado por uma situação dessas.

"Mas caralho... Como?" eu me perguntava, sem parar. Todos nós já sabíamos que, por sua deficiência genética, ela morreria meio adiantado, cedo ou tarde, nessa faixa de idade. A questão era quando. Pela sua expectativa de vida ser de 14 anos, o quando já estava bem por perto por ela ter seus 15 anos. Mas esse quando... Esse sim é foda. Quando eu vou morrer? Posso morrer hoje, quando o elevador cair no fosso quando eu estiver descendo para falar com meu amigo. Amanhã... Nunca se sabe. É o quando. E esse quando chegou para ela. Mesmo sabendo que não poderia fazer mais nada por ela, e tudo o que todos poderiam fazer, já fizemos, comecei a me preocupar com alguém a mais. Lucas... Como ele estaria com essa história toda? Eu conheço ele desde os meus 5 anos. Não deixaria ele para trás agora. Nem nunca, acredite.

Até o funeral, eu fui pensando como que eu poderia ver o Lucas sem me comover nem algo parecido, cheguei à conclusão do impossível. Esperei duas horas até vê-lo no velório, nunca o vi do mesmo jeito. Em 11 anos, vendo-o uma média (um chute em meio de algumas contas rápidas aqui) de 227 dias ao ano (tirando encontros, saídas e faltas no ano letivo escolar), eu nunca havia visto ele chorar. Nem uma lágrima. No máximo um suspiro de dor, com uma pitada de nervosismo e adrenalina, o que gera algumas lágrimas ao torcer o ligamento do joelho. Mas daquele jeito nunca. Nunca também vou esquecer. Vai ser uma memória ruim para toda minha vida. Só espero que, assim como eu disse a ele, eu estou aqui para TUDO, não importa quando, e que, espero, seja a primeira pessoa a isso. Eu não aguentei vê-lo daquele jeito, quase nem conversei com ele no funeral. Nada saia. Assim pude falar meus pêsames à família, que conhecera na mesma época, e ver o corpo.

Minha primeira trágica experiência. Nunca pensei que fosse tão cedo, mas nunca esperaria ela vir tão tarde. Há alguns dias tento, repetidamente e em vão, sem sucesso algum, ligar para ele e ver como estão indo as coisas, se ele já melhorou e já organizou algumas idéias. Pode não parecer, porque tento esconder essa angústia jogando alguns jogos e escrevendo estes textos, mas SEMPRE me preocuparei com ele. Como sempre. Junto com meus pais e meu irmão, ele também é meu irmão. Que eu seja retribuído, no mínimo.

Descanse em paz Dedê.

Obs.: Esse foi o último texto que escrevi. Último não no sentido de acabar o blog, e sim em ordem cronológica. Mas os últimos três textos são algumas palavras "antigas", que teriam de ser postadas ao longo da semana, e estavam aqui no meu computador, atrasadas pelo incidente. Tomem nota. E depois desse, tentarei voltar a programação normal. E desculpem-me a enxurrada de textos, mas não ia aguentar segurá-los aqui.